Ilha apodrecida

Quem nunca teve um pesadelo antes que atire a primeira pedra. Uma viagem desagradável no momento do sono, que tem como alívio apenas o ato de acordar. Porém, pior do que ter um pesadelo, é viver em um constantemente, sem ter muito o que fazer para se livrar dele.

Ultimamente, não só eu, mas todos os ludovicenses têm vivido verdadeiros pesadelos na cidade conhecida como Athenas brasileira: a capital maranhense. Tempos atrás, eu já havia comentado algo assim aqui no blog (neste post aqui), assim como também escrevi sobre a esperança que eu ainda nutria a respeito de São Luís (leia aqui). Mas nem toda mente esperançosa tem ânimo suficiente pra acreditar até o fim. Ainda me resta um pouco dela, e eu vou explicar por quê; mas para que vocês entendam o motivo pelo qual ela está se acabando, é melhor reunir as razões.

Todo esse discurso dramático é, na verdade, um aviso de mais uma maranhense desesperada. Isto porque, na iminência de comemorar quatro séculos de existência, São Luís derrapa e cai em falhas, derrotas, assassinatos e descaso, alguns mais recentes com repercussão nacional.

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Até quando essa beleza resistirá a tanto descaso?

-Pra começo de conversa, nossa política é um poço de corrupção, mandatos comprados e politicagem, e isso não é de agora. Fico boba como somente uma família, ou melhor, um único homem, foi capaz de desgraçar um estado inteiro durante décadas. E ainda o desgraça, roubando dinheiro público de um povo que só recebe em troca serviços de péssima qualidade na saúde, educação, transporte, etc. Esse cotidiano de exploração e humilhação da população se reflete no espaço urbano da cidade, nos serviços e nos acontecimentos. Há anos as ruas da cidade se tornam réplicas do solo lunar, como em uma competição pra ver qual é a rua mais deteriorada. Esgotos a céu aberto, poças de lama, matagal, buracos imensos; isto é só um pouco do que a cidade vem sofrendo, principalmente nos bairros periféricos.

Somando ao caldo da desordem (sem falar dos já pertinentes problemas de falta de conservação do patrimônio histórico e cultural que temos), um recente acontecido ajudou a fuzilar a reputação da cidade pelo Brasil. No final de 2011 começaram as divulgações sobre o dito MOA, o Metal Open Air, que como prometido pelas empresas organizadoras seria o maior festival de Rock das Américas. Ok, até aí tudo bem; anunciaram a vinda de bandas internacionais e nacionais, três dias de festa e a expectativa de um público extenso. Então, chegado o primeiro dia do evento, tínhamos somente ausência de informações da produtora, centenas de turistas mal alojados, estrutura precária e o óbvio cancelamento das bandas prometidas. Nos dias seguintes o festival foi cancelado. Promessas de grandes shows em São Luís? Esperem sentados.

Ainda não acabou. A população precisa sofrer mais, não é, Dona Roseana? Pois não há como não sofrer, agora que o transporte urbano aos poucos entra em colapso; inicialmente por conta da má distribuição de veículos e precariedade do sistema, e depois pela atual greve dos rodoviários, que resultou também em retrocesso: em vez das já habituais carteiras de estudantes recarregáveis com créditos, voltamos ao saudoso sistema de passe de papel.

Os professores também querem parar, afinal de contas o valor que se dá à educação pelo visto é mínimo – monetária e educacionalmente falando.

Para pôr a cereja no bolo, no último dia 23 o jornalista Décio Sá, que mantinha o blog de política mais acessado do Maranhão, foi assassinado. A suspeita é de que o crime tenha sido encomendado... Mas porque? Simples: era um profissional justo e que não sabia esconder mentiras. Ou seja: estão calando o povo à bala.

Enquanto isso a cota de indignação minha e do povo maranhense vai se esgotando. Mas lembram que eu falei de esperança? Certo, ela existe sim. E eu prefiro concentrá-la na riqueza cultural que ainda temos. Quando finalmente conseguirem abafar as manifestações folclóricas maranhenses, trocando-as por espetáculos vazios de sentido e valorização, aí sim: podem jogar uma bomba nessa ilha.