"...passas sem ver teu vigia..."

Eu a observava quase todo dia. Ela passava no pátio em direção à cantina distribuindo sorrisos de forma gratuita para alguns felizardos. E eu ficava ali sentado no banco esperando receber o meu.
Éramos amigos, sim. E dos bons. Mas não tinha exata certeza se era exatamente amizade o que eu queria dela. Tentava de um jeito ou outro mostrar isso. Ela nunca percebia, ou fingia não perceber. Ou talvez eu fizesse isso de forma tão tímida e medrosa que chegava a ser imperceptível.


Luiza era linda. Morena e de cabelos lisos. Além de um carisma contagiante. Tão contagiante que eu não era o único a perceber isso. Ela era alvo de muitos olhares presunçosos e eu via isso com certo aperto no coração e frio na barriga. Tal qual goleiro que, em falta bem cobrada, fica parado, torcendo para que a bola vá pra fora.
De quando em vez, tinha um que despertava o interesse de Luiza. E ela, que me tinha como amigo, vinha me contar. Não que ela literalmente “viesse” até mim só pra me contar, essa era uma informação que acabava escapando no decorrer das horas que ficávamos conversando. Ora, porra! O que poderia dizer?! Claro que eu envenenava o poço. Dava toda uma visão pessimista de tudo que ela poderia esperar. Pra minha aflição, ela ia. Convites para parques, passeios, filmes e festas não lhe faltavam.
Voltava sempre com uma história engraçada pra contar. E essa história sempre envolvia o insucesso do possível ficante (ou namorado), até porque, se fosse o contrário, seriam história trágicas e não cômicas. E assim eu ia aprendendo com o erro alheio. “Farei diferente”, pensava enquanto Luiza narrava sua aventura.
E assim ela continuava indo a cantina, distribuindo sorrisos. Como que em exposição. Como fotografia em movimento. Aos olhares despidores de muitos e sobre os meus olhares de vigia. Que vigiava aquela criatura feliz, tal qual tola que tropeça em poesia.

5 comentários:

  1. E aí, Romeu? Essa 'Luiza' tá demorando para perceber seus olhares apaixonados, heim?

    Espero que não apague meu comentário dessa vez, pois tenho certeza de que não citei a tal da Julieta! Ooops!

    =*

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  2. Um texto bem 'Sessão da Tarde'. rs

    (Confesso: meu comentário vem envenenado decorrente das inúmeras lembranças de desilusões semelhantes que coleciono. E olha que o 'Romeu Vigilante' não parece comparecer comigo ao clube dos patinhos feios e desinteressantes... Bom, Luizas, Julietas e cantinas agoniantes à parte, repito: texto sessão-da-tarde. Desilusões mais repetitivas do que A Lagoa Azul!)

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  3. Ai coitado, quem nunca teve uma paixão platônica? Tua narrativa me lembrou o livro "Eu sou o Mensageiro" já leu?
    Adoro textos românticos e esse teu está ótimo, de verdade, eu queria saber o resto da estória! rs
    Bju

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  4. Caramba,nem sei o que dizer,fiquei sem palavras.E olha que me deixar sem palavras é muito difícil...
    É simplesmente lindo, cheio de detalhes,e até um pouco "sugestivo"(rsrsrs)...Interpretei de várias formas, uma melhor que a outra.
    Chico Buarque é um gênio por conseguir escrever coisas tão lindas, mas você é brilhante por conseguir interpretá-las dessa forma...
    Apesar de eu praferir minha outra interpretação do texto[...]
    Estou esperando anciosa pelos próximos capítulos...
    =Driih!!!

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  5. Que espaço interessante! Um charme!
    Adoraria te-la como seguidora em nosso novo blog!
    adorei seu blog !!!

    ah...
    Somos irmãs, diferentes, mas com uma coisa em comum : queremos dividir nossos mimos, dicas, segredinhos, fotos, a gente por dentro e por fora !

    E vai ficar muito mais legal se você vier conosco !

    hug,

    Lulú & Sol

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