O império da hostilidade

"Tenho pensamentos que, se pudesse revelá-los e fazê-los viver, acrescentariam nova luminosidade às estrelas, nova beleza ao mundo e maior amor ao coração dos homens."

(Fernando Pessoa)

A frase com a qual me deparo todos os dias na parede do meu quarto hoje somou perfeitamente aos meus pensamentos recentes. Dentro das minhas divagações sobre a sociedade e as relações entre as pessoas, me deparei com a ideia de que cada vez mais estamos nos fechando uns perante os outros. É bem simples de se entender: basta pensar em quantas vezes vimos ou vivenciamos situações onde um pouco menos de hostilidade resolveria tudo.

Pintura: Jylian Gustlin

Estamos cada vez mais apressados, drogados pelo trabalho - o novo ópio social -, gananciosos, orgulhosos, fúteis. Me perdoem pela visão negativa, mas a impressão que tenho é que a sociedade cada vez mais mergulha num poço sem fundo, apesar de raros casos.

Chegamos em um ponto onde a confiança nos outros é coisa do passado. É cada vez mais difícil achar verdadeiras amizades, uma vez que não se sabe se aquele seu "grande amigo" amanhã lhe dará uma punhalada pelas costas. Além do império da hostilidade, há o império da individualidade. Só pensamos em nós mesmos, nos nossos interesses. O social e a coletividade é assunto pros nossos avós e pra alguns ativistas ditos "inconvenientes".

Não há mais espaço pra conversas despropositais, para dividir um bom momento, sequer para um bom dia ou um obrigado. Nos armamos com uma armadura invisível baseada em desconfiança e medo, tudo para escapar da fraqueza de ser humano.

Agora sim, dá pra perceber o quanto os pensamentos de Fernando Pessoa fizeram falta.