A farsa do descompromisso

Todo profissional recém-chegado no mercado sofre algumas penitências. Seja ter que trabalhar 30 horas por dia, abstrair os feriados e fins de semana ou ter uma magra remuneração. Ou tudo junto, nunca se sabe. Mas grande parte dos designers  sofrem por conta de um mal que acomete quase toda a clientela: a febre da falta de vínculo. Não é verdade?

Em um dia qualquer de prospecção de clientes, logo após você tentar convencê-los de que a identidade visual de sua empresa poderia ficar melhor, o seu ambiente de trabalho ou a forma de oferecer serviços estão inadequados, uma ponta de interesse por parte da pessoa com quem o designer está tratando começa a aparecer. Surgem algumas ideias iniciais, talvez até a revelação de realmente estar procurando por este serviço. Marca-se uma reunião, mas logo depois vem a célebre frase: "é sem compromisso, ok?"

Tudo que é desprovido de laços, de vínculos ou relação, tende a direcionar nosso pensamento à falta de cuidado, ao descuido com detalhes. Na teoria, uma reunião descompromissada poderia muito bem ser no boteco, não é? Entre uma cerveja e outra, um pouco de porque contratar seus serviços. Faltou mais um prato de aperitivo? Certo, o garçom traz mais um enquanto eu te explico porque você precisa do meu trabalho...

Definitivamente NÃO.

O sistema engenhoso por trás das reuniões sem compromisso está no quão errôneo o termo é. No geral, a primeira vez que se lida com um cliente em potencial precisa-se adiantar bastante a capacidade e competência do profissional que irá ser contratado. É preciso mostrar um pouco do que se faz, e da melhor forma. Mas para chegar a isso não se investe pouco.

Reuniões sem compromisso são quase sinônimos de gastos sem reembolso - que fique bem claro. Isto porque, para chegar ao seu cliente, você precisará usar seu perfume caro, sua melhor roupa, seus sapatos preparados para ocasiões mais formais. Gastará gasolina, provavelmente irá se estressar com o trânsito. Gastará tempo mostrando seu portfólio, e em alguns casos pagará a conta do restaurante onde almoçaram. Por trás da aparente falta de interesse há, de um lado, um cliente em cima do muro, um tanto descrente dos benefícios dos serviços que o designer pode lhe oferecer; de outro, um profissional bastante interessado em conquistar mais um nome para sua clientela, e que de preferência faça parte da sua lista por muito tempo. O "quase sinônimo" citado acima vem por parte do resultado. Na maioria das vezes, principalmente com profissionais iniciantes, a resposta tende ao não.

E então, como ficam seus gastos? No passado. Nesses casos, o que vale é perpetuar sua disponibilidade de trabalho. Possui cartão de visitas? Deixe pelo menos dois com o cliente. Tem um portfólio sobrando? Ofereça-o a ele. Deixe claro que seu telefone estará disponível sempre que ele precisar. Mas uma coisa é certa: mais visitas sem compromisso com o mesmo cliente, obviamente que não.

Pra falar a verdade, essa é uma prática banida entre os grandes nomes de qualquer área de atuação. Mas para aqueles que ainda estão na base da escada de sua carreira, ela talvez se repita e traga clientes, mas com certeza renderá boas histórias!

3 comentários:

  1. É, no começo sempre acontece esse tipo de coisa, não só com designers. É quase se humilhar pra conseguir a(s) primeira(s) coisa(s). Depois que a gente consegue autonomia, neeeem pensar em 'reunião descompromissada'. Tem que ir criando a cara de coragem pra dizer certas coisas e ir evitando os desperdícios.

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  2. Tõ tão sem tempo de ler... mas esse texto tá muito bom, bem inspirado...
    Isso é verdade... é uma pena...

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  3. Aconselho para os designers que, como eu, estão começando, a lerem o livro "Como ser um designer gráfico sem vender sua alma".

    Mas trabaçhos gratuítos as vezes são necessários, infelizmente...

    ;D

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