Ninguém consegue, até onde eu saiba, retroceder e reviver momentos do passado. O que sobra para nós, no andamento da linha do tempo e do espaço, são lembranças boas ou ruins do que fizemos ao longo da vida. Que bom seria se pudéssemos concertar alguns erros ou viver novamente uma situação boa, não é verdade? Ou então aconselhar a nós mesmos sobre como agir. Porém, enquanto isso não é possível, temos que nos contentar com alguns artifícios simples, criativos e com pitadas de nostalgia para construir uma ponte arcaica entre passado, presente e futuro.
Fiz essa reflexão quando, certo dia, li em um site (que infelizmente não consegui lembrar qual era) uma série de dicas de coisas interessantes para se fazer. Todas com um gosto de infância e vontade de experimentar novidades; e entre elas estava justamente aquela que dá nome ao post. Porque não escrever uma carta para o meu eu daqui a alguns anos?
Dá valor a essa experiência quem sabe o gosto das redescobertas; como a que tive ao reler uma antiga redação de colégio falando sobre o avô "postiço" que o destino fez morar ao lado da minha casa. Não reconheci minha letra infantil, e cheguei até a duvidar da minha autoria, como um pedaço da minha própria história perdido da memória, escondido em um buraco negro que mais parecia pertencer a outra vida. Relutei um pouco, mas no fim acreditei e acabei guardando, com gratidão, aquelas folhas de papel que me traziam de volta uma das partes deslocadas da minha experiência de vida.
O que realmente me motivou a escrever uma carta para a Mariany de daqui a um, dois ou dez anos foi o medo, o mesmo que por alguns segundos se apoderou de mim ao ler com espanto a redação que desconheci de início. É meio difícil conceber que pedaços da sua vida se perdem ao longo dos dias, e sua cabeça nem sempre vai memorizar tudo aquilo que você deseja. Aos poucos, seja com a idade, rotina ou mudança, alguns pensamentos vão descendo pro andar silencioso do inconsciente, saindo do nosso domínio e comodidade de convocá-los nos momentos de saudade.
Por conta disso, recomendo a experiência. Escreva uma carta para você no futuro, e deixe fluir sobre o papel o seu eu de hoje, despido de maquiagens. Conte tristezas, felicidades, o tamanho do seu cabelo, a sua atual cor preferida, o nome do seu bicho de estimação. Não esqueça de mencionar seus anseios, suas conquistas até então, o que lhe anima atualmente. Mas não caia no erro de tentar adivinhar quem será você daqui pra frente; quanto a isso, fique despreocupado. O futuro se encarregará de lhe moldar fora de qualquer padrão que você possa criar.
Boa sorte!
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