Verdades convenientes sobre flores

Surpreender é o verbo adequado para os temporariamente inertes.

Surpresas sempre são bem-vindas, não pelo que elas primariamente possam ser, mas pelo impacto que causam em quem as recebe. Uma atitude, um caminho diferente, um presente ou uma palavra podem dar uma nova direção para alguém; podem ser a tormenta nas águas calmas da inércia. Podem desviar a visão do óbvio e aguçar percepções.


Foto: W. Scott Chester

O ato de se surpreender algumas vezes está relacionado com redescobrir algo que há muito já nos era próximo. Se surpreender com uma bela frase escrita na parede que fica no caminho que você faz todos os dias para o trabalho, perceber uma árvore frondosa crescer na frente da sua casa... Notar estes e outros detalhes da natureza compõe o prazer da descoberta. 

Ultimamente passei por alguns redescobrimentos. 

Apesar de admirar árvores, especialmente as seculares, e ter um desejo crescente de plantar algumas – ou simplesmente ter um jardim -, admito que meu contato com plantas se restringia a conviver com algumas árvores do quintal e de cuidar mais de perto somente do meu cacto de estimação. Tudo isto fazia com que minha proximidade com plantas e flores se reduzisse somente ao papel: as cores que eu observava, as formas, os tipos. Minha imaginação preenchia a lacuna do que não era palpável. 

Girassóis, Van Gogh
Recentemente, o escritório onde trabalho foi invadido pelo perfume de jasmins, seguindo assim por uma semana. Nada melhor que receber esse singelo presente como um cumprimento de “boa tarde” todos os dias. Mas essa florida intervenção na minha vida não parou por aí. Dias depois, eu trouxe para casa uma revista especial sobre flores. No conteúdo recheado de matérias, contos e associações das mesmas com a literatura, a música e a arte, belas fotografias enchiam os olhos da cor e da beleza de cada espécie registrada. 

Além disso, essa semana um buquê ganhou espaço na minha mesa. Mas na verdade, o espaço que ele ocupou – agora não mais falando fisicamente – foi bem maior. Foi assim que descobri algumas verdades convenientes sobre as flores, principalmente as rosas. 

Grande parte das coisas na natureza causa admiração pela beleza e simplicidade. Não é diferente com as flores. Elas, que em geral são pequenas, coloridas e delicadas, nos fazem lembrar que as relações que cultivamos na nossa vida são exatamente assim. As melhores são as mais sinceras e mais simples, e justamente pela beleza advinda dessa pureza, se tornam as mais preciosas. 

As rosas, assim como as pessoas, podem ser despedaçadas na forma errada de se tratar. Da mesma maneira que algumas pétalas podem cair, feridas também podem ser formadas por palavras e atos.

Mas uma coisa que mais aprendi foi que, para se ter a beleza das flores por muito mais tempo, basta conservá-las nos jardins, ou simplesmente manter suas raízes. A tentativa de posse absoluta sempre tende a fenecer o que foi aprisionado.

O Túmulo dos Lutadores, René Magritte

Independente do ponto de vista, há de se concordar que as flores serão sempre fonte de inspiração. Mesmo sendo efêmeras, murchando com o tempo e deixando somente a memória do seu perfume e da sua beleza, seus vestígios artísticos sempre sobreviverão. Exemplos como as obras Girassóis, de Van Gogh, e O Túmulo dos Lutadores, de René Magritte não me deixam mentir.

O bom de tudo isso é saber que por perto sempre teremos flores para apreciar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário