Uma cidade feita de caos

O que dizer de São Luís nos últimos meses?

Greves se amontoando e tomando níveis preocupantes, manifestações, assaltos e assassinatos, tudo isso em uma bomba que explode aos poucos.

A última grande movimentação está ocorrendo por parte dos policiais militares e outros oficiais aqui no Maranhão. Tais notícias já até alcançaram os principais telejornais da TV aberta no Brasil, e estão causando reviravoltas e gerando opiniões diversas. Em meio à essa situação, o Badulaques recebeu uma colaboração de um policial militar, explicando um pouco mais sobre a posição da Polícia diante dessa paralisação, além de esclarecer alguns pontos implícitos.

Tenham uma boa leitura, e não deixem de acompanhar esse acontecimento que está e continuará marcando a história do Maranhão.

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Desde o dia 23/11 centenas de policiais militares e bombeiros ocuparam a Assembléia Legislativa do Maranhão dando inicio a paralisação da categoria que já se anunciara desde o dia 08/11, quando estes cessaram suas atividades e se puseram a frente desse mesmo prédio que até o presente momento permanecem. Na ocasião, deputados e militares chegaram a um acordo onde, dentro de duas semanas, o Legislativo tentaria junto a Governadora pleitear as suas reivindicações. Pelo atual andar da carruagem vocês bem podem imaginar que as negociações não foram muito frutíferas.

Militares mantêm-se acampados aguardando negociação.
Foto: JR Lisboa / Agência Assembleia / Fonte: http://www.luiscardoso.com.br

Com certeza muitos se perguntam o que os militares querem alcançar com esse movimento. O que na verdade os militares almejam é um amento de 30% nos seus salários (referentes aos últimos três anos de desvalorização), que a escolha do Comandante Geral seja via eleições, que o Quadro de Promoções seja revisto, exigem também a redução da carga horária semanal de 70 horas para 40 horas (conforme consta na Constituição Estadual – que diz que todo servidor estadual não pode ultrapassar 40 horas de serviço semanalmente) e melhorias nas condições de trabalho.

Tudo isso que lhes disse são coisas completamente factuais, elas de fato estão acontecendo. Mas vocês sabem que toda moeda tem seus dois lados, bem como que cada visão sobre determinado ponto é também um determinado ponto de vista. E não faltaram pontos de vista divergentes sobre a ação da polícia e bombeiros desde o inicio da paralisação, assim como também não faltaram bocas para tecerem todo tipo de comentário a fim de distorcer qualquer informação referente ao movimento.

Diante de muitos fatos acorridos e vinculados, principalmente pela mídia, sobre a paralisação, não há como não fazer um comparativo entre militares e o restante da sociedade maranhense. E não digo isso pelo fato de também ser eu um militar e querer, dessa maneira, dar ao movimento brios heroicos para toda uma população onde talvez, não haja. Digo isso porque de todas as coisas sujas que eu ouvia falar sobre política, mas não observava de maneira tão explícita, pude perceber agora. E da mesma maneira que fatos e verdades são escondidos sobre essa greve, muitos outros são escondidos sobre outros assuntos de interesse social, mas que a mídia cala ou deturpa.

Quando os militares ainda ensaiavam uma paralisação, logo o Governo do Maranhão se apressou em anunciar através da televisão que não havia motivos para tal atitude uma vez que o salário dos policiais e bombeiros era um dos maiores do Brasil e a criminalidade aqui nem se comparava com a de outros estados da federação. O salário líquido que chega às mãos dos militares é somente o 14º maior do Brasil. Quanto ao que a Governadora denomina de “pouca criminalidade”, isso eu deixo para que vocês, que andam nas ruas todos os dias, possam dizer se é verdade ou não.

Com o andar da paralisação, a Governadora desse estado, através da TV Mirante, fez questão de ressaltar que o movimento não possuía legalidade (diga-se de passagem, um dos cinco princípios da Administração Pública). De fato não há legalidade, pois de acordo com a Constituição Federal, serviços essenciais, como segurança e saúde, não podem parar. Contudo, dou a cara a tapa para afirmar que, se de um lado foi ferido o princípio da legalidade, por outro foi ferido outro princípio importante: a moralidade. Por que afirmo isso? Porque de todas as corporações do Sistema Público de Segurança, a única que não recebeu aumento foi a Polícia Militar e os Bombeiros Militares. Motivo? Os demais estavam parando suas atividades e, com a necessidade de tê-los de volta à ativa, foi-lhes concedido aumento salarial. Quanto aos militares, por não poderem reivindicar da mesma maneira, nada mudou! A senhora Governadora, mesmo não indo de encontro a nenhuma lei, agiu de má-fé para com os militares, assim ferindo, aos meus olhos, a Moralidade.

Dessa forma, por mais que digam ser ilegal a atitude dos militares, esta não é de forma alguma ilegítima, pois não se vê nenhum pedido absurdo por parte do movimento. Aparentemente, o que todos buscam é apenas respeito se comparados a outras forças policiais desse estado. Vejam que discrepância: um Coronel, militar que ocupa a última patente do quadro de oficiais, com no mínimo 30 anos de serviços nas costas e que para chegar a tal posto teve que se submeter a cursos e mais cursos a fim de se qualificar o suficiente, não ganha mais do que 500 reais a mais que um delegado civil, que por sua vez possui um curso superior.

Adentrando ainda mais os bastidores do movimento, não tem como passar despercebido, mais uma vez, o papel da TV Mirante, emissora controlada pela família da governadora, que tentou e tenta até agora disseminar falsas informações sobre a segurança na cidade e no restante do estado. Segundo tal emissora, fazendo voz ao Secretário de Segurança, Aluísio Mendes, a cidade está com um efetivo de policiais superior ao normal. Como isso pode ser verdade se temos mais de mil policiais parados e só 168 policiais da Força Nacional e alguns recrutas do Exercito? Senhores, a cidade está é sem NENHUM policiamento, essa é a verdade. Cadetes foram colocados nas principais ruas no Centro da cidade para gerar uma falsa ideia de segurança e, claro, a Mirante estava lá gravando aquele pequeno contingente de cadetes para poder transmitir tais imagens nos jornais.

O mesmo secretário afirmou que o governo, antes da paralisação, estava com ótimas propostas de aumento para os militares. Então o que explica essa atitude dos policiais e dos bombeiros? Ou eles perderam totalmente o bom-senso e arriscaram seus empregos e bem-estar em uma paralisação totalmente inócua ou então o Senhor Aluísio Mendes esta subestimando a inteligência dos maranhenses.

Estouraram também denuncias sobre o atual Comandante Geral, Coronel Franklin Pacheco Silva, sobre improbidade administrativa, uso do dinheiro da Corporação para uso pessoal e distribuição de diárias a oficiais que nunca tiraram os pés do quartel. Essas informações não são divulgadas na televisão e tampouco eu posso lhes dar segurança da sua veracidade. Mas como tal denuncia partiu de outro coronel da própria corporação, vale a pena não deixá-la passar batida.

Enfim, nesse cabo de guerra entre Governo e militares, a população é que fica a mercê dos bandidos e todos os militares parados tem consciência disso. A paralisação foi o último recurso depois de inúteis negociações. No entanto quem pensa nos policiais e nos bombeiros? Já fui civil e sei como é; os despreparados e os que reclamam de barriga cheia são sempre os policiais. E muito se deve mais aos governos e suas mídias por esse estereótipo.

Não lhes digo, e nem poderia, que todos os policiais têm a mesma dedicação que outros para desempenhar seu papel. Mas abram os olhos! O Governo está montado uma imagem negativa sobre os policiais e bombeiros e isso não é verdade.

“Se você não tomar cuidado a mídia vai fazer com que vocês amem os opressores e odeiem os oprimidos”. (Malcom X)

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Até.