Uma jovem de 90 anos

Nos dias 13, 15 e 17 de fevereiro de 1922, o Brasil via acontecer em uma de suas mais populosas cidades a Semana de Arte Moderna. Realizada em São Paulo, esse marco na história da pintura e da literatura brasileiras contou com a participação de artistas como Anita Malfatti e Di Cavalcanti e escritores como Mário de Andrade, Ronald de Carvalho e Oswald de Andrade. Financiada pela elite paulista, por mais que tenham surgido controvérsias em torno do evento, sem dúvida seu acontecimento ditou mudanças de grande importância no cenário cultural do país: depois da Semana, não haveria mais como produzir arte da mesma forma de antes.

Imagem: divulgação
Meu interesse pelo assunto cresceu logo após ler o livro Pauliceia Desvairada, de Mário de Andrade, sobre o qual publiquei aqui no blog um pequeno resumo do que ele trata. Mas além de novidades literárias, a Semana trouxe ao Brasil o despertar modernista que o país necessitava, um novo sopro de inspiração nas já gastas formas de se expressar lírica e artisticamente. Se hoje em dia ela ainda rende assunto por sua inovação, imagine na época. As atrações do tão falado evento aconteceram, por vezes, recepcionadas ora por aplausos fervorosos, ora por vaias enfurecidas. O novo ainda não tinha sido bem aceito, e a proposta dos jovens modernistas ainda soava como acorde desafinado aos ouvidos de uma massa acostumada com a arte produzida até então.

Encarregados de apresentar o novo Brasil aos brasileiros, o grupo de artistas formado pelos já citados Mário e Oswald de Andrade, Anita Malfatti, Di Cavalcanti e Ronald de Carvalho uniu-se a outros nomes como Tarsila do Amaral, Victor Brecheret, Heitor Villa-Lobos e Menotti Del Picchia para realizar a famosa exposição, mais palestras e concertos. Noventa anos se passaram desde a emblemática data, e o Brasil se vê hoje em um cenário de igual descoberta da arte, nesse caso a contemporânea, embora não com o mesmo alarde. Ao longo desse tempo, gradativamente abriu-se espaço para um maior número de pintores, artistas de rua, graffiteiros, ilustradores, escultores, entre outros profissionais que, à maneira dos memoráveis participantes da Semana de Arte, cumprem o papel de apresentar novas formas de pensar artisticamente e questionar padrões. Com uma herança como esta, só temos a agradecer aos que, debaixo de críticas ou ovações, tiveram a iniciativa de construir uma realidade diferente na cultura do Brasil.

2 comentários:

  1. Em meio a um mundo onde o empobrecimento de ideias e valores, se torna constante, suscitado, principalmente, pelas diversas e cômodas redes sociais, é interessante ver alguém que fale com propriedade e com orgulho da Semana de Arte Moderna.
    Gostei muito do texto, pois nos desperta da comodidade, embasado nas atitudes dos modernistas na época em questão.
    Atualmente, envolvidos em uma sociedade cada vez mais inerte, regozijamo-nos ao ver grafiteiros expondo seu pensamento e contribuindo ativamente para uma constante evolução da arte brasileira.
    Parabéns pelo Blog.

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  2. Agradeço a visita e o comentário, Danilo!
    Também espero que a comodidade atual passe e que, cada vez mais, haja uma produção cultural mais forte e significativa, assim como foi na Semana de Arte Moderna.

    Até!

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