Escassez

O bairro onde moro resolveu testar seus moradores. Estamos em uma espécie de estágio para 2050.

Há algumas semanas ocorre um sobe e desce de baldes, litros e carrinhos de mão, fora a visita periódica de caminhões-pipa. É incrível e horroroso: estamos sem água. O poço local agora, em vez de água, puxa lama de um lençol freático atolado. Segundo a empresa estatal, o tempo indeterminado de retorno das águas na torneira será usado em estudos para achar um novo local de escavação de outro poço.

Esse regime militar de falta de água força a pensar na rotina de gastos, no desperdício, no futuro. Mas muito mais do que falar sobre falta de água, é melhor falar da falta de cérebros.

Uma situação como essa obriga todos a economizarem, a valorizarem cada mísera gota, a gastarem seu suor carregando baldes. Todos o fazem, mas nem todos refletem. A inexistência de uma real análise da situação faz um ou outro prometer gastar a água aos montes quando esta vier, sofrida, pelas torneiras. Há quem consiga aprender a economizar e deletar isto da memória assim que o conforto do chuveiro vier. A geral falta de cérebros diante da falta de água é um grande problema.

Conscientização é a palavra-chave para o início da resolução deste problema global, e a crise diante desta ausência foi responsável, pelo menos em minha casa, por uma mudança de hábitos e mentalidade. Economizar o pouco da água que resta, saber reutilizá-la na lavagem dos cômodos ou do quintal. Como ouvi certa vez, "a crise é benéfica", e nos provoca uma mudança de atitudes. Pena essa mudança ter acontecido na decorrência da falta, o que me faz ter a ideia hipotética de que só vamos saber o real valor da água quando não houver mais nenhuma gota restante no mundo. E, diferente de agora, não haverá esperança de retorno.

2 comentários:

  1. Mariany, Mariany...

    Fui adicionar voce no twitter, fiz. Então vi o link do blog e resolvi clicar... e olha só que coincidencia: quando eu fui criar meu blog, entre os varios possiveis nomes que eu queria dar pra ele, estava BADULAQUES, juro!! E hoje, eis que me deparo com um... uhsuhsuss

    Gosteei do seu espaço... Um abraço!!


    (aah, te dei um Oi hoje no banheiro da Ufma, rsrs!)

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  2. É quando a gente percebe que algo tem que mudar. Diante dos transtornos e dos incômodos. O ser humano é bem cabeça dura mesmo.

    Adorei o texto.
    bjo

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