O que é e o que não é

A primeira vez que me deparei com a ideia da negação de um objeto perante sua representação - seja por palavras ou imagens - foi durante o estudo de um dos mais subversivos movimentos artísticos das chamadas Vanguardas Européias: o Dadaísmo, ou simplesmente Dadá. Conhecido principalmente pela falta de sentido e pela discussão sobre o que é o objeto artístico, o que é arte e o que pode ser considerado arte, o Dadaísmo também apresentou reflexões a respeito do caráter abstrato versus a atribuição concreta anexada às representações dos objetos do mundo real.

Para entender melhor, basta ter como ponto de partida a imaginação, um pensamento sobre determinado objeto. Se pensamos em uma maçã, o que formulamos na mente é a ideia da maçã e não a própria. Usando somente a imaginação podemos sentir o cheiro, gosto ou ver a textura da maçã, mas isto não a constitui. Seguindo essa linha, as imagens desenhadas, fotografadas, pintadas e etc também são meras representações dos objetos reais, assim como as palavras. Se escrevo "cadeira" bem no meio deste post, não precisa se preocupar, ela não se materializará!


Trabalhando dentro desse conceito, um dos pintores que o representou muito bem foi René Magritte (foto), surrealista e dono de uma gama de quadros surpreendentes e provocadores de reflexão. Um dos quadros que mais ilustram e tocam no ponto da representação dos objetos é Os Dois Mistérios (imagem abaixo), onde aparece a inscrição "Ceci n'est pas une pipe", ou "Isto não é um cachimbo". O leitor do Badulaques pode pensar que aprendeu errado, até porque pela nossa convenção há um cachimbo ali sim senhor! Mas, na verdade, o que Magritte quer nos dizer é que o que há ali na obra é somente a representação de um cachimbo, e não o próprio. E está instaurado nas nossas cabeças o abismo que separa o que é abstrato e o que é real, e até que ponto podemos tomar um como outro, se é que podemos.


A partir de então, aconteceu comigo o que acredito que acontece com todas as pessoas que interagem a fundo com a teoria e refletem a seu respeito. A partir do conhecimento dos ideais que falavam sobre representação de pensamento, nível de realidade das imagens e dos objetos e a nossa viagem dentro do espaço entre representações e elementos tangíveis, passei a analisar com outros olhos a existência das coisas. E não, eu não usei narcóticos. :P

Recomendo a todos que tem a mente sedenta por divagação! Fica a dica. :)

Badulaques dividindo viagens...

3 comentários:

  1. E este blog: é materializado, tá no campo das idéias ou é só a representação do campo das idéias?

    Muito a ver com a Matrix, a idéia da caverna de Platão... :D

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  2. Realmente, eu até iria citar Matrix no post.
    E quanto ao Badu, acho que ele se encontra muito no campo da abstração, já que estamos falando de opiniões e ideias, e não a representação de coisas concretas. :)

    Obrigada pela opinião!

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  3. e como já dizia Friedrich Nietzsche:"A arte existe para que a verdade não nos destrua."

    quanto aos narcóticos... sei não... ^^
    tô brincando!

    o seu texto plantou a semente da inquietação por aqui. (rsrs)
    abraços blogosféricos!
    mayanne serra

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