Indústria Cultural

No ano de 2008, os alunos do curso de Design Gráfico e Design de Produto do Instituto Federal do Maranhão (IFMA) foram incubidos pelo professor de Sociologia a fazer uma trabalho sobre o Bumba-Meu-Boi no Maranhão. Os alunos estudaram a respeito da manifestação, pesquisaram origens, visitaram sedes dos grupos e assistiram apresentações. No fim, esse trabalho seria apresentado em algumas escolas aqui de São Luís. Junto com os dados recolhidos, cada aluno deveria entregar um texto com sua impressão a respeito da brincadeira, de uma forma geral. Bem, eu era um desses alunos e resolvi lhes "presentear" com o meu texto. Boa leitura!
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"Levanta, meu boi. Dança, meu boi. Bumba, meu boi!"
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O que é o Bumba-meu-boi? Dança? Brincadeira? Tradição? Qual o significado de uma das manifestações culturais mais conhecidas do Maranhão? Talvez muitos de nós que enchemos a boca para cantar em outros ouvidos a beleza de tal festa não saibamos responder tais perguntas.

E, se formos mais a fundo em nossa pesquisa, nem mesmo os dançantes, o miolo do boi ou o dono do boi saberá dizer de uma forma convincente (se bem que não é necessário ser convincente para estar correto). Se pararmos para pensar, o próprio "Bumba-boi" poderá não saber dizer o que ele mesmo é, pois pode ser que se encontre num caminho cheio de traiçoeiras bifurcações, que o afasta da essência primordial de sua origem.
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"Hoje o 'boi' não morre mais". Essa frase representa bem a prática que muitos grupos de Boi adotaram. Segundo, a tradição, o boi dança durante todo mês de junho e morre no final do mesmo mês, dançando de novo só no próximo ano. O abandono do que se chama de "morte" ou adoção de múltiplas mortes de um mesmo boi deve-se exclusivamente à obtenção de dinheiro, nada mais. Em outras palavras, o boi "desmaia" em um arraial para em seguida dançar em outro, de janeiro a janeiro.

Outro ponto importante a ser destacado é a aparente iniciativa que o governo do Estado tem em patrocinar os espetáculos juninos e "julhinos", num comportamento que mais se assemelha ao "pão e circo" romano. Vemos filas imensas nos hospitais à espera de um atendimento medíocre, e vemos trabalhadores entrando em greve por melhorias salariais. Mas as matracas não param de tocar nas noites ludovicenses, ao passo que esse som penetra na cabeça de todos, fazendo-os esquecer as privações sofridas nos períodos não-juninos.

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Isso não é tudo. Para quem não sabe, o enfeite que cobre o boi (popularmente conhecido como "couro" do boi),é a parte mais sagrada de toda a brincadeira. Nele são representadas imagens de santos ou da sagrada família. Mas você pode ter certeza que não vai ser nada difícil ver um boi com a imagem de um político ou uma empresa telefônica no seu couro. Isso porque que organiza o grupo precisa de dinheiro para comprar roupas, enfeites, etc., e as empresas querem ver sua marca divulgada em veículos populares. Pronto! Juntou-se a fome com a vontade de comer.
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Essa visibilidade que a brincadeira oferece não somente atrai quem quer divulgar como acaba fazendo com que alguns grupos trabalhem tendo como principal objetivo se tornarem verdadeiras "vitrines". E para essas vitrines chamarem atenção (do público e dos patrocinadores) vale tudo. Como grupos que existem hoje por aqui que são de determinada comunidade, mas a grande parte dos dançantes é de outro lugar. Aqui o que conta não é a tradição nem a comunidade, os dançantes são escolhidos a dedo de acordo com a beleza, com o corpo. Índios e índias de corpos esculturais dançam, numa verdadeira batalha de apelo sexual entre outros grupos que infelizmente seguem essa tendencia. É o que eu chamo de grupos "pra turista vê". São bonitos, sem dúvida, mas abandoraram séculos e séculos de cultura e aprendizagem dos que contruiram pouco a pouco a brincadeira.
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Ganha-se em beleza, perde-se em cultura.

Um comentário:

  1. Cultura... sempre um tema difícil. Sou do meio urbano e exageradamente modernizado, talvez por isso não saiba bem o valor cultural das coisas. Tenho minhas ressalvas, mas sei do valor das tradições. De modo geral, governo nenhum está preocupado em manter a cultura, a preocupação gira em torno do turismo, do comércio e dos impostos. Nada mais! Assim, acho que a sociedade reunida deve fazer valer a sua força para preservar as suas tradições. É isso!

    Um abraço

    Tiago França

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