Carta aos Homossexuais

"Em uma das minhas últimas conversas, estive em uma situação que nunca antes havia estado - não da forma que fiquei. Um simples papo entre colegas me mostrou o cérebro que move o mundo. Nele, falava-se da homossexualidade como o câncer da humanidade.

Tudo começou quando falei de um dos meus parentes, que possuía gostos como os meus e uma história de vida de batalhas e realizações, e que mesmo tendo falecido antes do meu nascimento ganhou minha admiração. Era meu primo, e morreu de Aids - sendo que ele fazia parte do principal grupo de risco, em uma época de recém-descoberta da doença.

A partir daí, toda sorte de comentários veio à tona, e caíam em mim como uma bomba. Não há preconceito que derrube minha admiração, mas todo espinho lançado contra ela feriu minha esperança nas pessoas.

Me perdoem.

Me perdoem por calar no momento em que valeriam muito mais do que dois ou três comentários de oposição diante da máxima de que homossexualidade é digna de nojo.

Me perdoem por calar para não perder uma amizade, sendo que assim ignorei que vocês perdem várias só por decidirem viver em paz consigo na revelação pública de sua sexualidade.

Desculpem por não falar aos outros diante da afirmação de que "na Bíblia está escrito que é errado" que Deus, acima de tudo, ensina que cada um ame ao outro como a si, sem diferenciação, pois todos somos seus filhos.

Simplesmente ignorei seus anos de luta por espaço e respeito, as agressões físicas pelas ruas, os xingamentos, a beatice cega e ameaçadora de quem não quer enxergar que homossexualidade não muda caráter.

E, além de tudo, não são vocês os dignos de nojo, repulsa ou exclusão. Isto fica para quem acha que no grupo seleto dos ditos "normais" só há espaço para quem vive de farsa, de atiramento de pedras e de tribunais - onde o único juiz é o preconceito."

Mariany Carvalho