Números inertes

Ilustração: Renato Alarcão

O Brasil tem suas belezas naturais, sua população calorosa e outra série de vantagens e qualidades, mas por vezes é difícil de engolir. Educação e saúde de qualidade, distribuição igualitária de renda e a política são alguns dos assuntos mais "travosos" na boca do povo. Este último, por exemplo, tem dado suas amostras de casos de corrupção não solucionados e de injustos reajustes salariais, além de outras peculiaridades. O fato que impulsiona este texto refere-se ao impasse na mais recente discussão sobre novos valores do salário mínimo - a principal base do sustento da população, que muitas vezes tem que se virar com um só. Decisões acerca dos valores de R$ 545, R$ 560 ou R$ 600 têm dividido partidos e opiniões e, como era de se esperar, o menor valor está se encaixando na decisão final. 

O motivo pelo valor maior estar sendo deixado de lado, segundo o presidente da Câmara dos Deputados Marco Maia deixou por alto em entrevista a um programa da Redetv, é que deve haver um cálculo que deixe equilibrado na balança a quantidade de impostos a serem pagos e o quanto cada trabalhador brasileiro deve receber. Pelo que entendi, R$ 600 seria um valor que não colaboraria com estes cálculos. Ou, se preferirem esta interpretação, seria dinheiro além do necessário e desfalcaria os cofres da federação.

Tal constatação deixa qualquer um com uma ponta de indignação. O povo brasileiro, aquele que  muitas vezes sofre com a falta de capital para compra do que é indispensável - como alimentação, vestimentas e moradia - , é o mesmo que assiste e assistiu pouco tempo atrás ao reajuste salarial indiscreto de certas classes de políticos. Olhando assim, parece bem fácil aumentar salários. Por que há tanta dificuldade quando o assunto diz respeito à população?

Infelizmente, o Brasil ainda possui grandes problemas administrativos, principalmente por conta da falta de um pensamento social por parte dos administradores da política nacional. É melhor encher os próprios bolsos (ou cuecas) do que dar uns "trocados" para um bando de bobos, ou como preferirem, eleitores. Sabe-se que para que tal situação vire do avesso ainda serão necessários muitos anos de conscientização. A exemplo das movimentações no Egito, que levaram cerca de trinta anos para que pudessem ocorrer, percebe-se que demora sim, mas uma hora o povo cansa. E, por aqui, o nosso povo já cansou. Está na nossa hora de buscar o que merecemos: respeito.