A cidade

Tem certos dias que a gente ouve sem escutar, vê sem enxergar, lê sem entender uma linha. E de repente fica tomado de surpresa quando atenta aos detalhes de algo que há muito passa todos os dias na sua frente, mas você não teve tempo ou disposição de parar e, de fato, analisar o que lhe aparecia frente aos olhos. Isso acontece com a rotina: passar todos os dias pelo mesmo lugar, traçando o mesmo percurso e no mesmo horário chega a bloquear nossa sensibilidade.


Mas longe de se tornar um post ranzinza e reclamando rotinas, acho válido falar do momento prazeroso, embora que raro, em que "acordamos" da hipnose da repetição e passamos a ver as coisas ao nosso redor de forma diferente, ou simplesmente reconhecê-las como deveriam ser reconhecidas.

Aconteceu que há algumas semanas, em meio a um trabalho que pedia o estudo sobre a cultura da minha cidade, tive que me voltar completamente pra essa "ilhazinha" onde moro. E não falo de somente conhecer o que havia nela - pois isso eu já sabia -; tratava-se de captar detalhes, peculiaridades e outras características mais que pudessem me fazer traduzir um aspecto de sua cultura em alguns traços. Entre lendas, danças, culinária e outras manifestações, escolhi a arquitetura de São Luís, bastante famosa Brasil afora e reconhecida como Patrimônio da Humanidade.

Neste ponto da conversa é importante abrir parênteses. São Luís está passando por momentos não tão gloriosos. Problemas se acumulam cada dia mais, buracos se abrem no chão, dejetos caem do alto do teatro, impostos se acumulam, grevistas se rebelam. É o apocalipse maranhense, e as piadas de que "2012 é aqui" não param de rolar. Então, com todo este cenário, não é nada difícil desgostar de onde se mora. Não vou mentir que a vontade que tive, desde que tudo isto começou a desencadear, foi a de arrumar as malas e sumir, mas...

... Por sorte, tive a chance de me reapaixonar pela minha cidade. Como nem tudo é tragédia, ainda há beleza em nosso caos. Pesquisando em livros e em campo sobre os casarões ludovicenses, pude ver que minha cidade ainda tem coisas boas a oferecer, e muita inspiração pra dar. Fotografei o que pude, o trabalho já foi entregue, mas nunca mais verei São Luís da mesma forma. Foi-se o ofício, mas ficou o brilho nos olhos.

5 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Primeiro tenho que concordar com uma coisa: a rotina rouba muito da nossa sensibilidade. Ficamos tão concentrados em problemas e compromissos que não reparamos nos pequenos detalhes ou peculiaridades que tornam um pouco mais interessante o dia e fazem com que hoje não seja igual a ontem.
    Ademais acho que não há como não gostar de um lugar (ou até de uma pessoa) sem reconhecer seus defeitos e deficiências. Isso acontece justamente para identificá-los e tentar saná-los. É muito bom o processo de "reencantamento", principalmente em um lugar como São Luís que possui muito a oferecer, estética e culturalmente, por mais que essa beleza seja escondida pelo rotina ou pelo descaso.
    Deu até saudade do reviver! ^^

    Abraços

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  3. Já fiz um trabalho assim também... foi uma delícia!

    Conhecer são luís por suas formas, detalhes, cores, amores, arte... dá até para sonhar, rsrss.

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  4. tu se apaixonou pela cidade de novo, HA.
    acho que qualquer paixão é capaz de fazer a gente ver as coisas com outros olhos.

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  5. Não importa se há problemas, se há coisas que queríamos que fossem de outro jeito... Sinto uma saudade tão grande desta tua ilha que nem imaginas.

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