Amar e chorar: combustíveis da poesia?

"O que será, que será?
Que andam suspirando pelas alcovas
Que andam sussurrando em versos e trovas
Que andam combinando no breu das tocas
Que anda nas cabeças anda nas bocas

Que andam acendendo velas nos becos
Que estão falando alto pelos botecos
E gritam nos mercados que com certeza
Está na natureza
Será, que será?
O que não tem certeza nem nunca terá
O que não tem conserto nem nunca terá
O que não tem tamanho..."

 
[Trecho de O que será, de Chico Buarque]

Apesar dos casos raros, não há quem discorde: 80% do que se produz na poesia fala de amor e/ou tristeza. É um verso mais floreado, um parágrafo mais melancólico ou rima apaixonadas. Que o diga Florbela Espanca, Vinícius de Moraes e demais poetas que seguem o gênero, além de cantores (por isso a letra de uma música de Chico no começo do post).
 
Qual será o motivo?
Ilustração: Daniel Semanas
 Não há como negar que o amor é um assunto um tanto que inevitável de se tocar. Da conversa de boteco à palestras internacionais. De uma rua na favela à um quarto de hotel. Não adianta, ele está lá. Nada muito diferente da tristeza; pra falar a verdade ela está mais presente ainda, capaz de contaminar o amor. E deve ser por esse motivo que tanto se fala em ambos (não só na poesia, mas em obras de arte, músicas ou peças de teatro): pela onipresença. E mais ainda pela nossa capacidade de buscar identificação com os casos alheios. Ou você vai me dizer que nunca ouviu uma música romântica pensando nos seus affairs? Ou, ao ler uma poesia, nunca se emocionou com as histórias tristes dos outros? Isso porque buscamos nos enxergar nesses acordes ou versos.
 
O pintor já não pinta pra si. O compositor já não compõe baseado nos seus casos. O poeta já não escreve mais sobre ele. Todos eles sabem que, ao passar por outras mãos, olhos ou ouvidos, os seus feitos e confissões íntimas vão ser abafados pelo espelho que o amante e/ou entristecido conscientemente fez questão de transformá-los.

4 comentários:

  1. adorei *-* Logo no começo fui levado, pela música, a lembrar do filme 'Dona Flor e seus dois maridos'
    e depois um texto muito bom!
    o amor também está lá no filme né e está tão presente mesmo que as vezes nem damos conta!

    até.

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  2. Adorei o post também! Sabe..a verdade é que o amor e a tristeza sempre andaram e sempre andarão juntos. Todo casal que se preze tem um mar de amor e uma gota de ódio. É o tempero na medida exata! Mas claro, quando o mar passa a ser de ódio e a gota de amor, aí o caso já é complicado por demais. rsrs
    Um beijo =**

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Very Good...! O amor é uma inspiração que nunca fica ultrapassada, seja ela para qualquer exemplar da arte. Pois o amor, é usado como tema há tempos e quanto mais se tenta falar ou descrevê-lo mais fica escancarada a verdade que ele é inexplicável...!

    Beijo!

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