Além de nós

O ser humano não é psicologicamente feito pra morte.

Basta uma ameaça, tal qual um acidente, um prenúncio de doença, um cortezinho no dedo. Não queremos saber como é ver a luz, como é a face de Deus (caso ele tenha face), como é o outro lado. Nosso discurso pode ser bem construído, mas na prática somos os primeiros a tremer na base e cair em desespero. E não me excluo desse grupo.

Sabemos confortar amigos quando é preciso, mas a si mesmos todo texto pronto escapa num branco. Definhar, se esvair no último suspiro; isto é inimaginável. Melhor morrer dormindo.

Ilustração: Till Gerhard
Assistindo ao filme que fala da vida de Chico Xavier, uma cena que retratou bem esse contexto me chamou atenção e me fez refletir. É que diante de uma turbulência em um avião, o próprio Chico se desespera ao se ver em situação de risco. Ninguém escapa deste medo. Acredito que este temor vai muito além da mera superficialidade. Naturalmente temos medo do desconhecido, do que não nos é palpável; ligamos as luzes ao entrar na casa escura, colocamos somente um pé na primeira vez que entramos em um rio diferente, buscamos conhecidos ao chegar na escola nova.

Se preparados ou não, a morte ainda é um grande mistério pra todos nós. Sua chegada é inevitável, porém essa constante não é capaz de nos fazer mais tranquilos com o ciclo da vida. Mas deixo uma pergunta em aberto: seria realmente melhor sermos imortais?

11 comentários:

  1. Hum, imortal? Eu sou imortal, ao menos pelo que eu acredito, minha alma é imortal. Mas se pudesse escolher não queria viver enquanto tudo que amo se esvai. Claro que temo a morte também, como você disse quem não teme? Mas tudo que é exagerado vira um tédio, eu enjôo fácil então... Melhor viver bem os curtos anos que tenho direito. Gostei do texto, parabéns!
    Meireles.

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  2. Olá, pessoal!

    Mais um post que levanta uma reflexão pertinente. Sim, todos sabemos que a morte é inevitável, mas ainda assim somos capazes de nos surpreender quando ela chega perto de nós, tirando do nosso convívio pessoas que amamos ou não.

    Talvez seja mais um dos mistérios que norteiam a existência humana. Se sabemos que faz parte do ciclo por que não conseguimos aceitar com naturalidade? Bem, talvez seja porque nosso lado afetivo sempre acredite que as coisas devem realmente ser pra sempre ou porque nao conseguimos imaginar o mundo sem as pessoas queridas.

    É muito difícil ser taxativo a respeito. Principalmente porque ainda que saibamos do ciclo e tenhamos a certeza de que a pessoa foi feliz em vida, nunca estamos preparados de todo para aceitar a perda, porque é algo que foge ao nosso controle.

    Penso que cabe a todos nós levar em conta essa reflexão proposta pelo Badu, para que mesmos conscientes da morte e da dor que ela causa, não perdamos o foco no valor da vida e a consciência em torno daquilo que somos e fazemos enquanto podemos estar aqui.

    Abraços em todos!

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  3. Esse negócio de morte sempre nos incitou medo, insegurança,curiosidade, especulações...
    Ma-as... se fôssemos imortais, a vida não teria a menor graça, nada iria nos mover,porque simplesmente o "Ah deixa pra amanhã" jamais sairia de nossas bocas. Com o perdão da palavra, seríamos uns bananas estáticos.
    Pra que iríamos cantar "não deixe nada pra semana que vem, porque semana que vem pode nem chegar"? Dizer aos nossos filhos ditados próprios de mortais como: "não deixe pra fazer amanhã o que pode fazer hoje"?
    Pois é,pensando um pouco mais, muitas ações legais [eu pelo menos acho] como estudar, trabalhar, se esforçar, amar, cultivar amizades, ir à igreja, crer em Deus e até mesmo viver, no sentido de aproveitar a vida, talvez não existissem porque teríamos o tempo e as circunstâncias ao nosso favor...
    AAAAh, o legal mesmo é saber que nossa estadia aqui na Terra é efêmera, saber que um dia a nossa estrela vai cair, como canta Los Hermanos...

    Ai Parei, já chega de assuntos mórbidos...
    Parabéns mais uma vez ao Badulaques!

    Eveline Coelho

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  4. Não gosto da idéia de imortalidade, nem de vida eterna. Prefiro viver cada dia como se fosse o único, cada momento como se fosse o último. Gosto da intensidade dos dias (e por mais antagônico q isso pareça, dias intensos são mais leves). Como diz a música do Paulinho, "vamos começar colocando um ponto final, pelo menos já é um sinal de q tudo na vida tem fim". É inevitável que acabe, logo um dia acaba e todos torcemos para q acabe sem dor, mas a dor já não é algo sob nosso controle...

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  5. Sabe...
    Já escrevi algumas vezes sobre o assunto, já pensei nele outras tantas vezes, e também já tive de encarar essa sensação de silêncio que dá um nó na garganta e no coração. E, sempre, o que resta é mais dúvidas que certezas, mais perguntas que respostas.
    Apesar disso, e apesar do doloroso que é, são reflexões que valem a pena, nem que seja para valorizarmos o que temos hoje, para valorizar as pessoas que estão ao nosso lado agora. Ocorreu-me, entre outras coisas, "Sociedade dos Poetas Mortos", filme que me encantou: sabem aquela cena do começo em que o prof. mostra à turma a galeria de fotos dos antigos alunos e os incita à filosofia do "carpe diem"? Um tanto forte, mas profundo.
    Abraços e parabéns pela crônica e pelo convite à reflexão.

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  6. Sim,
    somos fadados ao fim e também toda nova situação dá uma certa insegurança.
    Mas,(respondendo a questão final)todo ciclo se renova ... trazendo uma nova vida, um novo começo, assim, considero que a morte não é uma condição 'absolutamente' definitiva
    Parabéns,pertinente como sempre!

    Inté

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  7. A minha idéia sobre a morte é simples: ela não existe! Eu sou mayanne, tenho meus princípios, minhas qualidades e defeitos e nunca vai existir outra totalmente igual a mim de novo, sou imortal. Mesmo que eu vá para debaixo da terra, tudo o que eu construí ou destruí nesta vida vai continuar como está, não vai morrer nunca.
    Na minha concepção, somos todos imortais. Se os grandes poetas, músicos e mestres que já partiram dessa vida são imortais, por que também não podemos ser? Basta viver a vida de forma que ela valha a pena, mesmo depois que acabe, e deixar bons resultados para nossos sucessores.
    Outra idéia que tenho sobre esse assunto é que temos que morrer (deixar esse mundo) para que outras vidas possam ter a mesma chance que tivemos – é um ciclo, como disse a Eliza. Quando uma porta se fecha, outra se abre.
    Mas quem sabe o que é a morte? Há muitos mais mistérios entre o céu e a terra do que a razão conhece. Assim como não sabemos de onde viemos, também não sabemos para onde vamos, se vamos e nem se voltamos. E se soubéssemos? Qual seria a graça de viver? Já saberíamos no que ela iria dar mesmo.
    Adorei o texto, Mary!

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  8. Penso que o ser humano só passa por dois grandes traumas na vida: o NASCER e o MORRER.

    NASCER: quando estávamos dentro do ventre da nossa mãe existia alguém que fizesse tudo por nós, desde recolher urina, fezes, alimentação e respiração. um ambiente confortável e muito comodista. quando nascemos é a primeira vez em que o corpo se vê na obrigação de começar a fazer algo só, aprender a fazer as coisas só... literalmente falando, lutar para se manter vivo... somos egocentricos desde o ventre.

    MORRER: porque ser humano nenhum irá se acostumar com a sensação da perda. imagine você estar interagindo com alguém que você ama ou tem muito apreço e então recebe a notícia que essa pessoa faleceu. nao existe mais tato, contato, interação, troca de valores e isso é um trauma que a mente humana não cogita superar. tudo porque somos finitos, limitados, falhos.

    A morte é na verdade apenas uma sucessão de vida Quem padece é a materia, somente o espírito é eterno... Ademais, não creio no espiritismo, considero algo totalmente sem pé nem cabeça e que mata o ideal de Cristo. Por isso não sustento a idéia de que o espírito possa reencarnar.

    Enfim, acho que é isso.

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  9. Oie :)
    em primeiro lugar,obg pela visita no blog.. desculpa a demora em retribuir! :)

    em segundo lugar..eu vi o filme do chico também, acho que deixou um pouco a desejar, mas no geral.. deu pra passar a ideia de quem ele era..

    hm..quanto ao seu questionamento.. somos seres imortais sim, o nosso corpo é que não é, mas o nosso espirito é bem velhinho já,mas não o suficiente para ser menos apegado, egoista e individualista :/ uma hora a gente chega lá..

    por fim, quanto a morte..eu não posso dizer que não ligo pra ela, mas tah longe de me assustar assim e eu acho que isso é mais do que considerar ela uma passagem.. é uma questão de desapego mesmo..num sei! eu vejo assim..

    :*
    namastê

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  10. Ser imortal na verdade deve ser uma chatisse! e trágico ao mesmo tempo
    Imagine viver literalmente "a vida toda" em carne e osso - sim, eu acredito que o espírito seja imortal mesmo - vendo todos aqueles que se quer bem indo embora?
    É como ser Dorian Gray, amaldiçoado pelo que as pessoas considerariam uma bênção.

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  11. "morte, morte que talvez seja o sentido dessa vida" (Raul Seixas).

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